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Rua João Borges
Foto: Lúcia Gomes |
Rua silenciosa
Rua estranha
À noite a percorro sem medo
Não tenho medo de mais nada.
Escuto os vizinhos, cuja voz ferina
Lançam calúnias, como fagulhas.
O outro é um ser estranho
Que coloca lixo nas calçadas
Madrugadas silenciosas
Minha vida caberia num bule de café
Minha vida caberia na pequena xícara
Em que meu filho Pedro
Aquecia o peito nas manhãs de frio
"Ninguém faz café como minha mãe"
Pelas calçadas os ratos caçam as sobras
Da falta de educação acumulada nos restos
Nos dejetos, no cheiro de urina dos cães e seus donos
Na cidade que apodrece.
Como admiro o varredor de rua
Ao dar-me bom dia todas as manhãs
A mesma vassoura e pás silenciosas
Ele junta as folhas da minha alma.
Não sei se um dia vou florir novamente
Não quero saber
Desejo esticar o meu corpo cansado
Como o cachorro a espreguiçar-se ao sol
E adormecer aquecida
Talvez não queira acordar
Talvez queira ser esquecida
E assim como passam as estações
A vida brotará das minhas mãos
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Folhas de quaresmeira no chão do quintal
Foto: Lúcia Gomes |