flor da cana do brejo

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Rua João Borges
Foto: Lúcia Gomes
Rua silenciosa
Rua estranha
À noite a percorro sem medo
Não tenho medo de mais nada.

Escuto os vizinhos, cuja voz ferina
Lançam calúnias, como fagulhas.
O outro é um ser estranho
Que coloca lixo nas calçadas

Madrugadas silenciosas

Minha vida caberia num bule de café
Minha vida caberia na pequena xícara
Em que meu filho Pedro
Aquecia o peito nas manhãs de frio

"Ninguém faz café como minha mãe"

Pelas calçadas os ratos caçam as sobras
Da falta de educação acumulada nos restos
Nos dejetos, no cheiro de urina dos cães e seus donos
Na cidade que apodrece.

Como admiro o varredor de rua
Ao dar-me bom dia todas as manhãs
A mesma vassoura e pás silenciosas
Ele junta as folhas da minha alma.
Não sei se um dia vou florir novamente

Não quero saber
Desejo esticar o meu corpo cansado
Como o cachorro a espreguiçar-se ao sol
E adormecer aquecida

Talvez não queira acordar
Talvez queira ser esquecida
E assim como passam as estações
A vida brotará das minhas mãos


Folhas de quaresmeira no chão do quintal
Foto: Lúcia Gomes

5 comentários:

  1. A frieza e a rotina da vida urbana muitas vezes nos tira a esperança de se ter forças, é um tédio, uma preguiça que invade o corpo. Vivi isso dias atrás...

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  2. "Minha vida caberia num bule de café
    Minha vida caberia numa pequena xícara"

    Esses dois versos mostram o encolhimento diante da cidade que apodrece e confina a todos nas paredes das casas e dentro da própria alma.
    Poema que retrata a degradação da cidade e dos valores.

    Vá em frente!

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  3. "A mesma vassoura e pás silenciosas
    Ele varre as folhas da minha alma.
    Não sei se um dia vou florir novamente"

    Versos delicados mostrando o cotidiano de forma poética e terna. A primavera a recuperar as folhas derrubadas no outono:da vida?
    A rua está ali: deserta.

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  4. A cidade apodrece diante do descaso dos seus habitantes, pisando nas folhas caídas, na sujeira e no distanciamento para com o próximo.
    Esse poema trás o engano da qualidade de vida dos grandes centros urbanos. Trás também o vislumbrar de que tudo pode ser diferente como "bom dia" do varredor de rua.
    Gosto das fotos.

    Beijos

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  5. retrata uma pessoa perdida no seu próprio eu,embora atenta no que se passa na rua,nas casas ao lado,mas em seu coração um vaziu,onde ela fala quero ser esquecida não quero acordar,parece querer fugir dela mesma,mas no fundo que nem ela percebe a esperança de um novo amanhã.

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