flor da cana do brejo

sexta-feira, 30 de março de 2012

POEMAS PARA PEDRO - MEU AMOR - Primeiro Livro




Ninho da sabiá na árvore do nosso quintal
Foto:   Lúcia Gomes
Penso que a vida
às vezes
se esvazia de sentido
e assim...
água no ralo
se esvai
no precipício

talvez seja
o início
o pio triste
da ave
na solidão do ninho


                                                                                       

                                                                                  

                                                                                   


POEMAS PARA PEDRO - MEU AMOR - Teceiro livro

Meu amor se debruça na janela
para sentir o perfume do quarto
a espalhar o teu cheiro
pelas plantas, flores, matos.

E se volto o olhar para dentro
a procurar-te na cama,
meu olhos águam o jardim
pois só te encontro em mim.


A quaresmeira do nosso quintal
Eu plantei a árvore em frente a janela do teu quarto, como pediste
Foto: Lúcia Gomes

Eu te amo, meu Pedro

quinta-feira, 22 de março de 2012

POEMAS PARA PEDRO - MEU AMOR - Primeiro Livro

O outono chegou, meu amor.
Pétalas de quaresmeira
Foto: Lúcia Gomes
As folhas cobrem o quintal
As flores de maio floriram,
devem achar o ideal

Não nasci para este mundo
de rancores e de dores,
onde as serpentes rastejam,
incomodam-me com rumores

Não sei se sou a dona
do amor  a do amar,
como escrevestes em versos,
querendo de mim falar

Fico feliz em saber
que você se sentia amado,
desde criança falavas
ser meu menino adorado

"O Senhor deu-me a língua adestrada
para que eu saiba dizer" (Is 50, 4-7)
Creia, gosto de falar
do meu amor por você

Hoje meu corpo é um altar
dia e noite a rezar.
Tens as chaves do céu:
abre a porta para eu entrar



domingo, 18 de março de 2012

POEMAS PARA PEDRO - MEU AMOR - Primeiro Livro

Eu não canto porque o instante existe
Samambaias na árvore do quintal

Foto: Lúcia Gomes
Não canto porque não sou pássaro
Sou uma ave perdida
Batendo de galho em galho

Minha vida incompleta
Minha vida interrompida
A tempestade e suas águas
Desmantelando o meu ninho

Não sou alegre, sou triste 
E se ainda escrevo versos
É para tornar eterno
Meu amor pelo Poeta

A noite orvalha as folhas
O frio veste casacos
Eu tento colar os cacos
Do meu corpo alquebrado

Faço um colar de contas
E conto todos os dias
Meus momentos, meus instantes
Para encontrar meu menino

Lembro de uma rolinha
Que debaixo do temporal
Não abandonou o filhote
Na árvore do meu quintal

Um dia não mais a vi
Encontrei o filhote morto
Deixei-o quieto, deitado
Ela no muro espiava
 
Recolhi-me no meu quarto
Na minha solidão calada
Procuro o rumo da ave
Para que possa guiar-me


POEMAS PARA PEDRO - MEU AMOR - Primeiro Livro



Foto:  Pedro Gomes


A chuva lá do quintal
Traz um pouco da incerteza
Não das águas que são bênçãos
Da amiga natureza

Nem do barulho que faz
Escorrendo sobre as folhas
Mas são as janelas fechadas
Ocultando o adiante

Gosto de olhar para fora
Os pássaros no seu voo
As flores que desabrocham
No leva e trás desse pouso

As portas ficam trancadas
Para os pingos não respingarem
Sinto-me enclausurada
Como a alma aprisonada

Então abro o caderno
Pego o lápis, as lembranças
E transformo a minha dor
Numa vida de esperança

Deixo aos versos seu destino
Sou instrumento, não interfiro
Eles que façam a jornada
Da minha vida roubada

terça-feira, 13 de março de 2012

Eu queria escrever um poema de amor
Eu queria escrever um poema engraçado
Eu queria escrever um poema tão sensual
Foto: Lúcia Gomes
Que só de ler eu ficasse molhada

O meu amor engraçado sensual
Inundaria a casa
Deixando a família louca
Pegando panos, vassouras,
Colocando os cachorros
Em cima da cama

A enxurrada cobrindo a rua de lama

Como voltar ao tempo
Em que o quintal enchia?
Nós parecíamos faxineiros,
Enxugando a água que subia.
O pior de tudo é que ríamos
Da nossa própria folia

Arquitetei obras
Realizei planos
Joguei fora as sobras
Dos meus enganos

Minha alma me procura pela rua

Não sei mais escrever o amor
A graça transmutou-se em garça,
Procurando no esgoto do rio Rainha
As framboesas da minha infância
A minha irmã e o meu filho vivos

Minha sensualidade é uma camisola branca

Que amanhece sozinha
Largada no travesseiro


segunda-feira, 12 de março de 2012

POEMAS PARA PEDRO MEU AMOR - Primeiro Livro

Pedro, meu filho amado,
No jardim de casa
Foto: Lúcia Gomes
Nunca pensei na vida
Que antes da minha
Seria a tua partida

Os dias passam arrastados
A ordem da vida se inverte
Como um filme ao contrário
O final, o cabeçalho

Meu amor, te quero tanto
Como um abraço apertado
Escutando a respiração
Sentindo o teu coração

O lume da vela acesa
Ilumina meu jardim
Da janela do meu quarto
Tenho você junto a mim

Eu vi uma borboleta
Tirando rasante das flores
Foi hoje, de manhã cedo
Mandei por ela um segredo

Diga ao meu filho Pedro
Que, para mim, ele está vivo
Porque enquanto eu existir
Seremos dois num sorriso


E mesmo que eu guarde no peito
Uma dor inigualável
Farei transbordar em bênçãos
Tudo o que em mim deixastes




terça-feira, 6 de março de 2012

Sereno Wake

Hidden in the foliage
... of thin sheets of raffia
to protect the lives
without allowing the stolen
my beautiful thrush
built a nest often
unable to undo
                                                                                                      Robin's nest built in raffia palm 



The eggs off the thrush
Three eggs there arose
heated with love
nurturing small beings
kept secret
cultivating the first trill
the day by waking

The serene waking
the sun each day
together the three small
returned my gaze
to me that
one day
also dwelt
my nest
.
The offsprin off thrush
There were many time
palms buckled up
from one side to the other
but nothing has crumbled
the perfect balance
branches intertwined
worked on a loom

Photos: Lucia Gomes