as nuvens desarrumaram as estrelas.
Não posso arrumá-las como pediste.
Dou-te um poema. Serve?)
o tempo roda
na roda
do velocípede
o sol é claro em teu rosto
rosto sem tempos
pequeno menino
mas vamos juntos
tu inocente
tu sem conceitos
e eu com defeitos
angústias de tempos
misérias, injustiças
mas vamos andando
e eu vou acreditando
que o teu pé no pedal
é o passo
questionando o esquema
que o teu sorriso é
a denúncia exata
de haver tristeza
que o teu tombo
tua boca sangrando
são como meus sonhos
minha boca em silêncio
que a tua mão no chão
arranca da terra
o perfil
o traço da insatisfação
mas vou aprendendo
um pouco contigo
um pouco comigo
vou crendo que um dia
minha poesia
palavra-instrumento
produzirá reformas
nas antigas formas
então
meu pequeno
eu abrirei um livro de histórias
de novas Histórias
e viveremos as páginas
de um novo mundo
de meninos livres.
(poema publicado originalmente na Revista VEREDAS - Revista de Letras e Artes - Osaco, 1977, na primeira página. Ilustração de Nelson Calazans; não foi possível reproduzir.
Lúcia da Silva Gomes tem 21 anos. Poeta e contista, colaborou com as revistas "Inéditos" e "Saga", e os jornais "Tribuna da Imprensa" e "O Estado de Santa Catarina", entre outros.)
Nota da autora: esse poema foi escrito aos 19 anos para o meu sobrinho Marcelo Gomes de Queiroz, quando ele tinha dois anos e pediu-me para arrumar as nuvens porque elas tinham dessarumado as estrelas.
Hoje, dia 19 de fevereiro, Marcelo faz aniversário. São esse momentos felizes o que de melhor posso ofertar.
Marcelo Foto: Lúcia Gomes |
Muito bom ler esse poema de uma época em que o país fervilhava culturalmente. As oportunidades eram para todos. Fico feliz por você ter resgatado "Passeio" do baú de memórias.
ResponderExcluirSim: sua poesia sempre foi "palavra-instrumento"
Continue a rodar o tempo com recordações tão boas.
Um beijos,
Luís Fernando
Sempre aprendemos: um pouco com a gente, um pouco com os outros.
ResponderExcluirAs crianças tem esse dom: ensinar com um sorriso.
Muito bonito esse poema e a homenagem feita ao sobrinho.
Bjs
"então
ResponderExcluirmeu pequeno
eu abrirei um livro de histórias
de novas Histórias
e viveremos as páginas
de um novo mundo
de meninos livres."
Que passeio bonito,Lúcia!Pude acompanhá-los devagar,ao ritmo das pedaladas infantis,ouvindo histórias encantadas e olhares amorosos entre o adulto que aprende e o menino distraidamente brincando e ensinando. Parabéns!!!
Obrigado por partilhar esse presente. Igz
O rosto sem tempo da infância constrói as pedaladas, os passos, do adulto que acompanha, no olhar do menino, a História do país e a história particular da convivência dos dois.
ResponderExcluirBeijos
"então
ResponderExcluirmeu pequeno
eu abrirei um livro de histórias"
São essas histórias a nos encantar desde a sua juventude que impulsionam o pedalar para você continuar sempre a reinventar a vida com encanto e graça.
beijos
A disposição do poema na "folha em branco" reforça o texto. O andar incerto de um menino de dois anos e a menina de dezenove seguindo seus questionamentos e passos, cuidando dele. Belo texto, Lúcia. Um passeio pela boa e atual poesia...
ResponderExcluirGrata, Carlos de Hollanda.
Excluirpasseio,muito lindo,de tia para sobrinho,fala de amor cuidado,lembranças que ficarão registradas não só na memória,mas tb escritas em forma de poesia,que retrata o carinho da escritora.
ResponderExcluirGrata, Margo Medeiros.
Excluirvou crendo que um dia
ResponderExcluirminha poesia
palavra-instrumento
produzirá reformas
nas antigas formas
Gostei desta parte, luz e paz...
Escrito em plena época da Ditadura Militar, sonhava com um mundo melhor. Grata por tuas palavras.
ExcluirLindo poema. Quanto carinho em suas palavras.
ResponderExcluirO amor nos torna melhores, Marli.
ExcluirMuito show esse poema. Me senti na minha infância.
ResponderExcluirProf. Adinalzir, fui tia muito cedo. Marcelo, até os três anos me chamava de "mãe". Convivi muito com a infância dos meus sobrinhos. Assim que possível, vou postar meus "contos de memórias".
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