flor da cana do brejo

domingo, 9 de outubro de 2011

BALADA DA MÃE SOBRE O FILHO MORTO

Quando o telefone toca,noite avançada,madrugada acesa,
meu coração dispara,relogio gritando as horas,sirene de bombeiro.
Inevitável derrubar o telefone no chão,perder a sensibilidade das mãos,
pisar em falso,tropeçar no cachorro,lutar com as cobertas.
Somos quatro eternamente,três capengas e um ausente.
Na toalha sobre a mesa, falta um prato para sempre.

Quando a campainha toca,a voz não se identifica,a resposta não se faz,
o silencio precipita. Meu coração dispara,atemporal,sofrido.
Quem bate e não anuncia a chegada da alegria?
Qual dos filhos é que que grita a ausencia do irmão perdido?
Somos quatro eternamente,três capengas e um ausente.
Na toalha sobre a mesa, falta um prato para sempre.

Quando um abraço me envolve,dedos aparam-me o choro,
sei que o tempo só piora,cava um buraco na alma,
a dor busca um lugar pra se esconder sem demora.
A mãe,a irmã, o irmão perderam o caminho de volta.
Somos quatro eternamente, três capengas e um ausente.
Na toalha sobre a mesa falta um prato para sempre.


Lúcia, Mariana, Bernardo e Pedro
Natal de 2006

sábado, 8 de outubro de 2011

Foto tirada pelo meu filho Pedro
flores da Argentina
Entre a vassoura que varre:
nuvens de pelo no chão,
traças que entram nas frestas,
machucados nas mãos,

Há sempre o pó acumulado
junto do meu coração.

Tempos de espera
marcados nas páginas
do meu caderno,
folhas que viram eternas,

Há sempre um verso guardado
junto a uma flor apanhada.

Colho flores no caminho,
coloco-as entre as folhas
das páginas do caderno
tudo fica amarelo:

Há sempre no meu caderno
flores-versos-eternos
As palavras embaralhadas na chuva da noite,
molharam o caderno, o risco do lápis,
restando um grafite como paisagem.

A mão passou a desenhar o verso,
os dedos sobre o papel,
riscando borrões, detalhes sombreados.

A luz dos desenhos refletia a borrasca
nas vidraças das janelas do quarto:
lágrimas derramadas das nuvens.
Foto tirada por Pedro, meu filho

Meus olhos espiam o céu
esperando clarear o dia:
manhã azul me espia.