flor da cana do brejo

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A tarde que não floresce e demancha-se em chuva pela mata,
umedece minha alma já cansada da friagem dos dias nublados,
das bocas caladas, dos lábios cerrados: palavra não escrita.
Há apenas o anoitecer diário, a inapetência para sair da cama
e atirar o travesseiro para o lado, lençol esparramado.
Os caminhos exercitados pela casa no ir e vir repetidos,
flagram os passos sem rumo, sem estrada, sem ter onde ir.
Todas as ruas tornaram-se desertas, janelas fechadas para o olhar,
veneziana sem pupilas que cobiçam descobrir o viajante a caminhar.
Portas que se fecham sem tramelas, chaves derrubadas no pote,
nada a encaixar-se em fechaduras emperradas, pelo tempo enferrujadas.
A casa sozinha adormece sem o ressonar suave das mãos,
o espreguiçar-se dos animais nos tapetes, os ninhos por abrigar:
galhos que esperam sozinhos o pouso dos dias floridos a cantar.




Sobrados floridos

Foto: Lúcia Gomes

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