flor da cana do brejo

quinta-feira, 4 de abril de 2019

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA LUZ

Foto: Lúcia Gomes
Localizada às margens da Baía de Guanabara, na Praia da Luz, a capela de estilo Jesuítico foi erguida ainda no século XVII, segundo a tradição, como forma de agradecimento de Capitão Francisco Dias da Luz à Nossa Senhora da Luz por ter sobrevivido a um naufrágio.

A Capela da Luz tem sua fachada em estilo barroco e guarda imagens originais de Santana, São Gonçalo do Amarante e de Cristo Crucificado, essa com um metro de altura.

O interior da sacristia ainda contém o mesmo piso de pedra e sua porta frontal possui mais de 350 anos. A Capela Nossa Senhora da Luz foi registrada como patrimônio histórico municipal no ano de 1985.

Localização: Praia da Luz – Itaoca, São Gonçalo – RJ

Fonte: Guia Turístico e Cultural - São Gonçalo - RJ

domingo, 31 de março de 2019

BEM VINDOS AO FACEBOOK - Parte I

                                                  BEM VINDOS AO FACEBOOK

                          



Aqui somos todos um abacateiro tentando sobreviver entre o capim navalha.

Aqui a inveja ecoa em comentários maliciosos daqueles que só desejam usufruir da festa, os copos tilintando, esquecendo-se de que o melhor é preparar a festa. A história da Galinha Ruiva cacareja diariamente nesse mundo virtual: Quem vai plantar o trigo, colher o trigo, moer o trigo, amassar a farinha e fazer o pão? Ah, para isso todos dizem não!

Aqui a paródia da música é: “Eu quero um homem pra chamar de meu, mesmo que esse homem seja o seu”.

Aqui é o lugar onde as faces se mostram tal qual são na vida real: todos interessados no próprio umbigo.

Sou contra as redes sociais? Busquemos as palavras:
Rede: trama com fios. Serve para aprisionar peixes. Depois sufocá-los e assistir à morte    debatendo-se pela vida. Há  rede de dormir também. Quando acordar, o “príncipe encantado” terá saqueado sua conta e estará gastando em outro conto de fadas.
Social: Será? Não vejo aqui um ambiente propício à construção de uma sociedade saudável. A família é muito atingida e as crianças alvos de mentes doentes.

Muitos afirmam que depende do uso que fazemos de tais redes. Pergunto: Quem as usa e para quê? Somente por razão particular. O Facebook é o terapeuta da vez e haja “blá, blá, blá”. O lado de lá guarda um desconhecido sempre disposto a seduzi-lo. O lado de lá é o desconhecido.


Aqui a velocidade impera, as informações se atropelam e provocam um engarrafamento enorme, monstruoso. De repente, percebemos que não saímos mais do lugar. Inútil apalpar as paredes. Nos tornamos objetos parados há muito tempo no mesmo lugar. Por essa razão, não somos mais percebidos. A imperceptibilidade dos outros nos conduz a não enxergarmos a nós mesmos. 

O outro somos nós.


(Lúcia Gomes - fragmento de texto - direitos reservados)


Foto: Lúcia Gomes
Fazenda Itaocaia


domingo, 17 de março de 2019

MARCO DA SESMARIA DA PEDRA DE GUARATIBA




MARCO DA SESMARIA DA PEDRA DE GUARATIBA

                                              Vídeo: João António Vieira


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

POEMA DO ENCONTRO


Poema do Encontro


Chega até mim no silêncio de noite
a tua voz que eu amo sem conhecer
e as tuas palavras que não esqueço.

Chega até mim para que tuas palavras
não embaciem o vidro da memória
nem o espelho triste dos meus olhos.

Chega com teus lábios cujo beijo sonhei
a beira mar vestida apenas de névoa
e traz contido a maré da manhã
com que todos os viajantes sonham.

(Lúcia Gomes - direitos reservados)


Foto: Lúcia Gomes

sábado, 26 de janeiro de 2019

BEM VINDOS AO FACEBOOK

                                                     BEM VINDOS AO FACEBOOK

     O lugar onde as pessoas o adicionam como amigo sem saber quem és. O que não importa muito, já que a verdadeira intenção é curtir, comentar e conversar imbox, de preferência escondido. Os amigos passam a viver dentro de uma caixa e não veem mais o mundo a sua volta. Os amigos do "bom dia" passam na rua sem cumprimentá-lo. Andam como zumbis, o rosto grudado no celular. O tempo passa velozmente, o feijão queima, o leite derrama, o cotidiano vira uma miragem.
     Onde os relacionamentos são perfeitos, romances se iniciam, casamentos são abalados, mulheres caçam homens, homens caçam mulheres, e, tolos, acreditam que estão dizendo a verdade. Aqui todos vivem no cio e uivam madrugada a dentro. O livro de faces é uma ilusão.Quando o nome não é falso, a foto de perfil é falsa, os dois são falsos ou a pessoa atrás da tela é falsa. Todos sorriem para selfies e, quem vê, inveja o sorriso ensaiado.
     Aqui, seus inimigos visitam seu perfil constantemente. Familiares não aceitam a sua amizade ou se metem na sua vida: escancarada como uma janela num dia de calor. Muitos o bloqueiam porque somos todos descartáveis após sermos usados, copo cheio de mosca, lixo jogado na lata. 
     A vaidade impera e o espelho mágico está sempre dizendo que ninguém é mais belo que você. A maçã envenenada é servida no café da manhã, no almoço e no jantar. Mesmo que tentes fugir para a floresta todos estão teclando e terás por companhia a mata, os pássaros e o barulho do riacho. O que não é de todo mal. O mal já foi feito ao enclausurarem todos numa caixa a se multiplicarem como baratas tontas sem rumo e afundados na dor.

(Lúcia Gomes - fragmento de texto)


Pássaro: Sanhaço
Paraty - Estrada Real
Foto: Lúcia Gomes



















segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Manhã de Inverno


Manhã de inverno 


Meu passado habita sobre a vida:
telhados debruçados nas janelas,
os contornos desenhados pela luz
nessa manhã de inverno.
Caminho passo a passo sem ter pressa.
Fincar os pés no presente, tal qual estacas firmes,
nem a brisa balança as asas do sanhaço no galho.
Não nego os rastros:
olhar o percurso é aprendizado.
O futuro é hoje mesmo.
O cheiro do café nas manhãs,
o pássaro banhando-se nas bromélias,
o cachorrinho deitado na soleira,
o sol de primavera.
Escrever é florir:
Palavras perfumadas com minhas mãos,
guardadas com carinho no caderno
a espera de que o abras, cada fio de cabelo entre teus dedos,
o rosto a sonhar em teu peito, folhas ganhando asas.

(Lúcia Gomes - direitos reservados)



Rua das Flores - Paraty
Foto: Lúcia Gomes

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

PALAVRAS CRUZADAS

                                                   Palavras Cruzadas

           
            Vamos escrever a nossa historia, enquanto ainda vive na memoria?
            Ah, não me falem de rimas pobres. Essa não é a questão, de novo não.
            Li o e-mail a indagar-me o porquê de tal proposta. Escrever dizem ser um ato solitario. O mundo está cheio de mentiras. Meus personagens me atazanam as ideias e falam mais do que eu.
            Quatro mãos juntas ao piano a dedilhar uma canção nova para cantarmos nos momentos de silencio e quebrarmos a rotina. Minhas duas mãos poderão tocar as suas. É quase inevitavel. Nesse momento nossas palavras entrelaçadas soariam a mesma nota: um sol qualquer. Nossos risos esbarrariam no calor dos labios. Possivelmente todos os teclados tocariam ao mesmo tempo a nossa música.
            Posso até ouvir meu coração acelerado,você de maestro a reger. Não sei como realizar tal proposta separados pela tecnologia a furtar-me o que mais preciso: o roçar dos seus braços nos meus. Também esse cheiro que não me pertence e muda o ar do quarto. Ou as mãos, uma sobre a outra,os dedos apertados a segurar para que não partam. Bom esse aconchego. A certeza, mesmo que provisoria, da sua proteção. O calor que sobe pelo braço e arrepia o pescoço. Suspendo o ombro, reviro as costas, sei que você vai afastar os meus cabelos castanhos e longos a divertir-se com o meu riso: Assim não vale! Você já saberia a resposta e riria do lugar comum. O comum, às vezes, é tão melhor.
            Bom e gostoso. Coloquei o capuccino fumegante na caneca de cerâmica. As mãos quentinhas desacostumadas a esse inverno. Encostei-me na porta da cozinha a olhar as maitacas empoleiradas nas telhas. Um bando inteiro. A empregada da vizinha gritava: “Milagre! Milagre! Só pode ser um sinal de Deus.” Lindas de fato. O seu cantar é atraente: todas ao mesmo tempo num delirio humano de deixa eu terminar de falar. Procurava aprender com elas.Um trinado em conjunto. Arruaça logo de manhã. Eu o empurrava para lá dizendo Pára, agora não, deixa eu espreguiçar-me. Você com essa mania de alongar-me e eu, doida para ficar agarrada ao travesseiro, puxava o lençol para cobrir-me. Inútil: queda de braço vencida.
            Você venceu. Dei-me por vencida. Sei lá. Pouco importa. Agora minha boca tem gosto de chocolate, afrodisíaco natural, acalma, esquenta, abraço apertado gostoso. Assim, aquecida, fica mais fácil entender o seu desejo. Gosto de aceitar desafios. Como faremos? Não diga. Será mais divertido procurarmos juntos o caminho. Eu reparo até nas nuances dos tons de verde das folhas. O que mais chama a atenção é a riqueza de detalhes. Isso é observação sua, não minha. Talvez. A você falta certas sutilezas com as palavras. Certa vez confessou-me isso, sem segredo, apenas um sou assim. Teremos que encontrar harmonia nas nossas diferenças. A tampa certa da panela. Qualquer coisa que dê samba ou outro ritmo. O seu caminhar é ligeiro. Gosto de parar e aspirar a brisa. Assim vamos acertando os passos. O descompasso não combina com a gente.
            Nossos passos se encontraram de uma maneira tão engraçada. Não posso dizer que tropecei em você. Marcamos um encontro: isso sim. Primeiro deixamos a escrita aproximar-nos. Depois a troca de olhares numa manhã ensolarada. Eu desviando a atenção para o mar, falando de barcos navios, caravelas. Quase contei a Descoberta do Brasil por inteiro, com todos os detalhes, incluindo a receita indígena de como assar um português. Que pânico! Você me encarando e rindo. Daí vieram suas historias. Eu as ouvi, mesmo as que não contou. Sei serenar a alma, ficar em silencio, calma, só para ver o que me escondes, só para ler o que não escreves, só para perceber os gestos.
            Que gesto é esse? Os braços cruzados, os olhos controlando quem sai e entra de um lugar público. Estava tão escuro. O filme não havia começado. O barulho do amendoim misturado aos ruidosos passos procurando lugares. Trancado no seu mundo, só via além. Os vultos misturados aos risos pareciam não pertencer a nossa historia. Nem que eu estivesse no seu colo você perceberia a minha presença. Senti-me tão sozinha aquele dia. Será que você percebeu? Que pensamento passa nos seus olhos?
            Meus olhos espiam o seu jeito: doce, serio,companheiro,distante, o encontro no desencontro. Você sapecou um beijo quando eu menos esperava e  fiquei ruborizada. Ainda possuo essas graças: coisa de menina. Acenei sem jeito. Não olhei para trás. O metrô em velocidade sacudia todas as minhas ideias. Sua boca ainda seguia comigo. Os labios quentes. As mãos geladas. Entrei na rua onde moro. Protegida pelas frondosas árvores podia esconder-me de mim. A pashimina lilás, que tanto gosto, envolvia-me no abraço ausente. O barulho da chave destrancava a porta. Agora as portas se abriam e eu precisava dar-lhe uma resposta.
            Minhas mãos atenderão a seu desejo. Junto com as suas teclaremos a nossa historia.

            Abandonei-me em seus abraços, repousando minha cabeça de cansaços, para que nesta madrugada, de chuvas espirrando na janela, eu possa adormecer, acolhida em seus braços. E se seus dedos entreabrem os meus labios, buscando palavras ali guardadas, a buscá-las entre a língua repousada, entrelaçando-as numa só linguagem; eu me deleito em deixar-me aquecida, assim coberta pela mão querida, que me governa e me desgoverna, permitindo-me falar pelos sentidos.