A QUESTÃO DA TEORIA COMO INSTRUMENTAL DE ANÁLISE PARA COMPREENSÃO DOS FENÔMENOS
A teoria deve ter por exercício
desenvolver o pensamento, esclarecer o que permaneça duvidoso, apontando
caminhos para a indagação dos problemas. Compreender o universo que nos cerca é
a maneira de traçar propostas para que o sistema de ideias se auto-alimentem.
Refletir sobre a Comunicação (Meta Comunicação)
permite a comunicação e traz a transformação, transformação necessária, urgente,
de mudarmos, antes de tudo, a nós mesmos.
Qual é esse sistema de idéias que,
governando nosso sistema de comunicação, nos aponta este ou aquele caminho? Por
que recusamos determinados apelos, quando nos sentimos impulsionados a agir
numa tal direção? Por que nossa vida consiste em ordenar o desordenado, em
colocar cabresto nesse turbilhão da alma, em buscar saber, distinguir,
relacionar, conhecer? Por que esse mesmo sentimento guarda em si a transgressão
as normas, a entrega irremediável às paixões, o desinteresse do saber, a
confusão, o isolamento, o desconhecimento? Para onde caminham nossas ideias?
A ideia supera o real. É com ela
que, inevitavelmente, convivemos.
Compreender que a representação tem
sido a forma de nos comunicarmos e que só nos conhecemos através de
representações, nos leva a crer que tudo o que somos é a materialização de algo
espiritual, ou a representação de uma ideia, de um sistema de ideias, de ideias
de outros. Sendo assim, se estamos aqui é porque também somos uma representação.
Os espíritas diriam que somos a encarnação de um espírito. Os católicos, o
corpo material de uma alma. De qualquer forma, a comunicação provou que é através da representação que nos
comunicamos, ou seja, realizamos o processo: referente – representamen –
interpretante. Levou dois mil anos para descobrir o que Deus nasceu sabendo. E
nossas indagações continuam: somos uma representação (ou representamen). Mas
quem somos nós? Temos um referente a quem constantemente remetemos. Mas quem é
ele? Não serão eles? Geramos um interpretante: um signo equivalente ou melhor
elaborado. Mas como nossos amigos nos vêem? Como pensam que somos? O que
desejam de nós?
Bidus e gurus à parte, somos o que
acreditamos ser, pois assim nos vemos. Defendemos nossas ideias porque
acreditamos serem estas nós mesmos. É nosso lado animal: instinto de
preservação e defesa.
No entanto, esse discurso de defesa,
de nos prendermos a determinadas convicções, nos fecha a idéias novas, nos leva
a degradação do sistema que acreditamos. Os elementos exteriores é que tornam
possível o enriquecimento do nosso campo de idéias. Todavia é necessário
cuidado para que esse campo não seja minado, para que os dados exteriores não
destruam o nosso sistema de ideias, para que a abertura a novas informações não
se constituam em doutrinações.
As ideias, que tendem a
incorporar-se a nós, fazem parte do que somos e, por vezes, ocupam o lugar do
que somos.
As experiências que vivemos, aquelas
que vivemos através dos outros, incorporam-se a nós como fatos de nossas vidas.
Estas experiências invocamos como nossas, deixamos que elas se apropriem de
nós. Nosso pensamento mistura-se ao de nossos semelhantes, nos aglutinamos por
proximidades.Talvez seja essa a legião infindável que habita o cosmos e que permeia
nosso estar aqui. O que nos faz estar mais perto de um que de outros? Por que
esses nos são mais caros que aqueles? Por que verdadeiros encontros casuais nos
colocam ao lado de pessoas que jamais supúnhamos encontrar? O que explica o
descaso e o fascínio, o amor e o ódio, a distância e o encontro?
São nossas idéias o que somos e o
que nos falta ser. Os opostos com os quais convivemos: a Bela colhendo flores
no Jardim, a Fera se escondendo no Castelo.
Almas gêmeas, nossas semelhantes,
são as idéias parte do que temos dentro de nós: um animal acordado e um anjo
dormindo. É certo que devemos acariciar o animal. Também é certo que devemos
despertar o anjo. Resta saber a quantas andam nossas doses de carícias e
habilidades para despertar. Resta saber se nos preparamos para isso.
Lúcia da Silva Gomes (direitos reservados - texto escrito aos 34 anos)
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